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    domingo, 2 de agosto de 2009


    Leilão

    Quem dá mais pelo meu coração?
    Pode ser que resulte, que alguém queira comprar
    Se ninguém quiser vou ter que aguentar
    É usado, com dor incluída
    Mas ainda bate, ainda tem vida
    Não era assim antigamente
    Ele era a própria vida, vivia livremente
    Agora já nem consegue parar de chorar
    Mas baixinho que é para ninguém reparar
    Vi que gostava de ti, nem sei bem porquê
    E o resultado é este que aqui se vê

    Tu deste-me asas para eu voar
    Depois tiraste-me o ar para não respirar
    Esqueceste-te que os pássaros livres sem oxigénio
    Não valem nada, não têm qualquer mistério
    E sem me deixares sequer a tua sombra ver
    Fizeste-me amar e ensinaste-me a sofrer
    Agora já sou livre da dor que me deste
    E sem qualquer surpresa do bem que me quiseste

    Mas mesmo sendo eu livre não sou
    Senão sombra anónima do ser que me deixou
    Pois a liberdade que consta agora em mim
    Não devia ser precisa, não devia ser assim
    Pois se assim não fosse também tu poderias voar
    Ser ave que canta, com licença para amar
    Ser livre, sem dor nem sofrer
    E sem necessidade de esconder

    Dizem que este é um amor que não se tem
    Que não pode, que não devia existir
    Um amor que quando nasce logo tem de partir
    E não e só comigo, com eles é igual
    Também o seu amor é tido por amor animal
    Amor corrompido, amor de pecado e solidão
    Um amor proibido pelos desígnios da religião
    E se com eles acontece, com elas tem de acontecer
    Também o ser amor ninguém parece entender

    Também dizem ser amor infernal
    Amor demoníaco, representativo do mal
    Mas não me diz isto o meu coração
    Afinal se Deus é amor como pode ser maldição?

    Voo agora pelos ares, sem pedir licença
    Já não temo as pessoas, já não temo a sua presença
    Fujo apenas da sombra que vi em ti
    Do medo que te corrói, que não devia estar aí
    E espero que apesar de todo o sofrer
    Também tu sejas um dia livre de viver

    Eu agora já nem quero mais saber
    Qualquer terra dos monstros é um lugar melhor para viver
    Já não me importa o que pensam sobre mim
    Não tenho de pedir perdão por amar assim
    Por vezes só me apetece partir para outro lugar
    Onde ninguém nos conheça, onde ninguém nos tente julgar

    Mas sei que no fundo nunca poderei partir
    E deixar este lugar, mesmo tendo para onde ir
    Pois se há coisa que aprendi e não posso esquecer
    É que nada nem ninguém fazem a esperança morrer
    E a minha diz-me que também esta terra será um dia
    Livre para todos, fonte de igualdade e alegria

    In "Partilha-te" - Leilão



    Comoveu-me às lágrimas....muito bom...


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