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    terça-feira, 4 de agosto de 2009

    "“Já não vivo em casa dos meus pais”. Passa-lhe esse pensamento pela ideia de repente. Tem imensa dificuldade em interiorizar o conceito de independência, o facto de ela ser independente, de viver do seu dinheiro, de estar na sua casa, de viver, simplesmente, como uma pessoa adulta. Talvez seja por se sentir tão criança por dentro. A ideia de solidão e de estar rendida a si própria é algo que a deixa extremamente desconfortável. Certos dias, chega a aterrorizá-la.

    Tem pensamentos assim, incoesos, desprovidos de qualquer organização ou padrão. É algo a que já se habituou, embora a deixe muito aborrecida por vezes. “Seria tudo tão mais simples se eu não pensasse tanto e em tanta coisa”. Perde imenso tempo a pensar como poderia evitar isso, embora não tenha a certeza sequer de querer assim tanto mudar esse aspecto da sua personalidade. Na verdade, dificilmente tem certezas do que quer que seja. São pouquíssimas as coisas das quais nunca duvida. Tem certeza de que ama A., isso sim. Tem certeza de que por ela faria qualquer coisa. Pensa nisso com alguma frequência, embora até na mente dela ponha aspas sempre que lhe surge esse pensamento. Sabe que A. não gosta dessa ideia, que lhe parece muito radical. “Tudo” envolve muitas coisas, boas e más” disse-lhe A. um certo dia, pouco tempo após terem criado aquela ligação especial. No entanto, acredita que estaria disposta a tudo por ela, embora não o diga.

    A….é o pensamento mais recorrente no seu dia a dia, está-lhe no sangue acredita ela. Ora pensa no quanto gosta dela, ora planeia eventuais saídas, programas para fazerem as duas, ora divaga sobre coisas acerca das quais quereria conversar com ela. Coisas boas, coisas menos boas, perguntas que quereria fazer-lhe, conversas banais. Passa imenso tempo a pensar nela, a tentar perceber e analisar cada um dos seus comportamentos ou até a falta deles. Por vezes deixa-a cansada psicologicamente, a fluência constante de interrogações e a falta de respostas para elas. Apesar de tudo, não se alonga em pensamentos maus sobre ela. Na verdade não tem pensamentos maus sobre ela. As suas ideias limitam-se a dúvidas e perplexidade.

    “Serei uma pessoa boa ou uma pessoa menos boa?”. Também pensa nisso. Gosta de pensar que é boa pessoa e agradável, fácil de conviver. Ainda assim, não é raro chegar à conclusão de que não presta. É uma expressão bastante forte, mas é assim mesmo que se sente em determinadas alturas. “Todos nós sentimos isso por vezes com certeza.”

    Detesta não conseguir chegar a uma conclusão sobre ela própria. Gostaria de poder dizer “sou assim” ou “sou assado”, mas tem noção que o decorrer dos dias far-lhe-ia dizer coisas contraditórias.

    “Amo-a”. Isso ela sabe. Parece ser a conclusão a qualquer uma das divagações dela. Qualquer assunto acaba sempre por relembrá-la da sua relação com A. Procura sempre a sua aprovação, embora saiba na perfeição que muitos dos seus comportamentos não agradam a A.

    “Sou mesmo criança!”. Chega a essa conclusão quando se apercebe de que no fundo, procura sempre atenção e aprovação. Essa ideia não lhe agrada. Detesta pensar que A. possa pensar isso dela, e no entanto sabe que é um facto. A. parece no entanto não se importar com isso. Uma das coisas que mais aprecia e valoriza nela é o facto de ela nunca a recriminar por ser quem é e como é. A sua capacidade de aceitação e a sua tolerância deixam-na sempre comovida.

    São imensas as qualidades que encontra em A. Por vezes decide que assim que chegar a casa, irá pegar num caderno e apontar tudo aquilo que gosta nela. Nunca o chega a fazer. Perde-se por músicas e divagações na Internet, conversas com A, cigarros à mistura.

    “Amo-a. Como poderia não amá-la?” Sempre a mesma conclusão. Não a incomoda. Incomoda-a sim sentir que o amor que tem por ela escapa por completo ao seu controlo. Incomoda-a por vezes pensar que se algum dia as coisas assim o exigirem, não conseguirá esquecer A. e deixar de a amar. Tem noção de que nunca ninguém acha que poderá deixar de gostar da pessoa por quem está apaixonado na altura, mas tem aquela sensação de que para ela é mesmo verdade. “Mas toda a gente também pensa que para eles é mesmo a sério!”. Irrita-a esse ciclo vicioso de pensamento que não a leva a lado nenhum. “É como saber se primeiro existiu o ovo ou galinha”, pensa ela, sentindo-se de repente completamente palerma. Na verdade, não lhe interessa minimamente a questão do ovo e da galinha. Interessa-lhe sim saber onde vai e se algum dia vai ter de esquecer A. Não quer nem se sente capaz disso. Tão-pouco lhe parece possível encontrar outra pessoa igual a ela e que desperte nela os memos sentimentos e sensações. Anseia por um dia sentir o amor de A. por ela seguro, no entanto sabe que é algo pelo qual não pode esperar. Gosta de imaginar histórias e cenários em que isso aconteceria, mas sabe que essas fantasias não passam de um subterfúgio para enganar a alma e deixá-la mais descansada. “Se funciona, não interessa que sejam só fantasias!”. Dificilmente quem quer que seja consegue retirá-la do seu mundo imaginário e infantil. Custou-lhe chegar a essa conclusão e conformar-se com isso, mas acabou por aprender a lidar com isso e tentar fazer dessa lacuna uma qualidade.

    Sempre que pensa em mudar ou crescer, pensa em A. Mais uma vez, procura aprovação. “Haverá maior sinal de insegurança?” . Também já deixou de se importar com isso. O tempo todo passado a conversar com A. ensinou-lhe muitas coisas, e uma delas foi a aceitar-se como é. Não diria que gosta de si mesma, pois isso seria uma mentira das grandes, no entanto sente-se aceite e assim aprendeu a aceitar-se também.

    A…é sempre nela que pensa, ainda que de forma baça por vezes ou mais distante. Está no seu imaginário e na sua realidade. Não a deixa assustada ou preocupada, simplesmente curiosa e perplexa."



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